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quarta-feira, outubro 16, 2013

A Busca

... Nesta noite, oito de fevereiro de 2005, enquanto viajava através dos sonhos, ele me pediu que escrevesse sua história. E eis que me aventuro no mundo das letras, transformando cenários e sentimentos abstratos em uma busca emocionante recheada pelas emoções que rasgam o mistério da vida além da vida.
Fico a olhar para as montanhas que se projetam além da minha janela. O verde da mata, em sua sensual nuance, contornando um céu, cada vez mais místico e capaz de me revelar os segredos de duas almas cuja história transpõe a toda explicação lógica.
Nuvens claras bailam ao som da brisa macia que desliza sobre os galhos das árvores levando-me a Angola, em fevereiro de 1973...


I
... Manhã de uma quarta-feira de 1973. Onde estava? Quem era eu? Meu corpo parecia estar dentro de uma fornalha. Tentei erguer minhas pernas e senti uma dor intensa percorrer minhas costas. Não consegui mover um músculo sequer, a voz embargada e não gritei por socorro. Desmaiei quando tentei apoiar meus braços sobre o colchão de capim seco.
Horas depois, imagino eu, despertei novamente. Ouvi distante e incompreensível, vozes ao redor do meu corpo. Seria um ritual satânico? Lembrei-me que estava na mata africana em plena guerra colonial.
Meu corpo sendo banhado por ervas com um cheiro enjoativo. Eu sentia tudo e não conseguia me mover. O líquido amargo desceu goela abaixo. Aqueles aborígines estavam me matando aos poucos. O inimigo me fizera prisioneiro. Veio então a cena da emboscada.
- Guerrilheiros não atacam a noite – gritava o tenente ao atingirmos uma clareira em meio à tempestade.
Assentamos o acampamento. Além do cansaço, eu carregava uma cartucheira, corda, arma e munição. Eu era um atirador especial de emboscada.
Quarenta e dois graus, estilhaços de bombas, fome e medo. Nem mesmo o calor era refrescado pelas chuvas que criavam imensos lamaçais. Quantos homens sobreviveram às doenças tropicais?
Numa guerra de guerrilha toda população é o inimigo, ninguém melhor que eles, conheciam aquele lugar selvagem. Fomos surpreendidos por um ataque surpresa.
No meio do estardalhaço, rapidamente peguei minha G3 e comecei a atirar no escuro, sob um mormaço insuportável. A bala do inimigo me jogou para trás e o sangue jorrou da minha perna esquerda, outro tiro atingiu meu ombro. Uma dor insuportável, um grito de horror. Senti meu corpo rolar num esbarrancado e o sangue se misturar à terra úmida. Menos de dez minutos e o pipocar das balas cessaram.
Corpos inocentes caíam imóveis. Nenhum comparte veio ao meu auxílio. Muitos morreram sem entender o que realmente faziam ali.
Era o fim...


“As lembranças estão vivas dentro de nós, a carregamos vida após vida, mas anulamos nosso poder a cada retorno, porque transferimos nosso poder ao corpo físico, às futilidades do dia a dia. Somos seres humanos com nossas imperfeições e esquecemos que acima de tudo somos seres espirituais. Somos espíritos desde sempre. Somente os sábios podem ver além da sua própria dimensão. Porque temos medo das lembranças? Fugimos às recordações porque não conseguimos interpretá-las e vivemos a superficialidade da vida terrena. Retornamos várias vezes, as personagens principais sempre retornam a fim de aparar arestas. As vidas são momentos de lucidez, de oportunidade para rever atitudes e se encontrar”.



“Não acredite no que digo. Acreditar é para os pobres de espírito que precisam se apoiar numa teoria para camuflar seus medos. Procure conhecer e sentir o que lhe digo. Procure conhecer sua essência, ver além dos seus olhos”.


Denia Dutra - 2005 - (A BUSCA - livro para publicar)

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